O ano passado teve um grande impacto em mim, principalmente por uma coisa: ME310.
A maioria das pessoas não sabe o que é, a pergunta mais frequente é: “ME310? O que é isso?”
O que é o ME310?
ME310 é derivado de Mechanical Engineering 310 (Engenharia Mecânica 310) de um curso da Universidade de Stanford, é também o nome que identifica a pós-graduação que frequentei no Porto que também faz parte da Sugar Network, uma rede global que reúne alunos multidisciplinares de diferentes universidades prontos a resolver verdadeiros desafios de desenvolvimento de produto.
Vou partilhar a minha experiência neste “trabalho a tempo inteiro” que fez da Porto Design Factory a minha segunda casa durante 9 meses.
As primeiras semanas foram intensas, repletas de exercícios que nos levaram a perceber que tipo de mentalidade devemos ter para o resto do ano que se iniciava. Definitivamente foram semanas intensas onde a metodologia com a qual estávamos a trabalhar foi apresentada: Design Thinking, uma metodologia focada no utilizador, nas suas necessidades e desejos. Também nos foram colocados pequenos desafios que além de nos estimular para ir ao encontro do mindset que se pretendia, permitiu-nos fazer team building para conhecer melhor as pessoas que estariam conosco nos próximos meses e ao mesmo tempo também serviram para a equipa docente analisar cada elemento da “turma”, de forma a criarem as equipas que iriam trabalhar nos desafios que as empresas parceiras tinham proposto.
As equipas eram uma espécie de startup, onde tínhamos a responsabilidade de enfrentar o desafio, investigar, prototipar, recolher resultados e desenvolver uma solução para corresponder às necessidades dos utilizadores.
Este curso mudou a minha perspectiva de olhar para o mundo e para mim. O curso é baseado em projetos, na paixão, é multicultural, interdisciplinar, prático… completamente o oposto do sistema tradicional a que estamos habituados. Não há pedestal para o professor, não há sala de aula com mesas e cadeiras enfileiradas e o professor não está todos os dias com um projetor a ditar a matéria. Os ambientes são criados pelos alunos, há conversas entre alunos e os professores no sofá, o professor não é detentor do conhecimento absoluto e os alunos são incentivados a questionar e discutir as opiniões trocadas.
Para mim foi algo que me fez crescer cada mais rápido e a maior diferença é que posso olhar para trás e perceber algumas dessas diferenças. Nestes 9 meses li e escrevi muito mais do que quando me licenciei, pois a forma como procuramos o conhecimento para alimentar o projecto é através da nossa curiosidade e ambição.
Todos os dias nos desafiamos e isso acontece por diversas razões:
- todos os dias somos forçados a sair da nossa zona de conforto
- estamos a trabalhar numa área a que não estamos acostumados
- não estamos acostumados a questionar o que nos dizem
- temos de fazer pesquisas para poder entender o cliente melhor do que ninguém
Mas a verdade é que se o curso não fosse tão intenso como é, ninguém ficaria tão apaixonado por ele. Obviamente essa paixão é o que nos faz querer fazer mais e ao mesmo tempo é o que nos pode deixar vidrados por algo e essa pode não ser a melhor opção, portanto nunca “te apaixones” pelo seu trabalho.
Fracasso é uma palavra muito usada nesta metodologia e achamos que já sabemos o seu significado, mas a verdade é que só a entendemos depois de falhar algumas vezes e superar a nossa frustração. É verdade que há espaço para falhar, mas tem de ser com o objetivo de extrair informações úteis para o projeto e aprender algo com ele.
Algo que nos ajuda a entrar nessa mentalidade é que nunca se fala de notas durante o curso. Isso faz-nos esquecer que as notas existem e acaba por nos fazer trabalhar mais, pois não sentimos a pressão da nota e acabamos por nos divertir e dar mais de nós. O medo de falhar desaparece.
Posso dizer que tive a oportunidade de trabalhar com uma equipa da Austrália, com 11 horas de diferença, o que significava que tínhamos de adotar métodos para nunca comprometer o trabalho.
Então, enquanto alguns dormiam, outros trabalhavam no projeto. Essa experiência permitiu-me adquirir novas habilidades de comunicação intercultural, seja pessoalmente ou via skype. Nem sempre foi fácil porque quando não conseguimos analisar a linguagem corporal e ler nas entrelinhas o que as pessoas falam, não temos todas as informações habituais para uma boa comunicação. Isso significa que às vezes tínhamos que ser designers, gestores, psicólogos ou especialistas em comunicação, o que nos levou a desenvolver e melhorar as nossas habilidades pessoais mais do que qualquer outro curso que já fiz.
Portanto, se achas que o sistema educacional não se encaixa no que desejas, tenta mudar não só a tua atitude, mas também procurar outras formas de aprender. Procura conhecimento, mostra-te curioso, aceita novas experiências e nunca dês tudo por garantido, procura sempre levantar questões para obter respostas que nem sabias que precisavas.
Love,
Joana