Yvon Chouinard comunicou em carta aberta com o nome de “A Terra é agora o nosso único acionista”, que os lucros da marca Patagonia vão passar a ser geridos e investidos no combate às alterações climáticas.
Foi revelado que o magnata, a sua mulher e os filhos doaram as suas acções, passando a empresa a ser gerida por duas organizações:
- Patagonia Purpose Trust, um fundo dedicado a manter o rumo traçado pela família;
- Holdfast Collective, uma organização não governamental.
Para perceberes quão única e inspiradora esta marca é tens que conhecer mais sobre o seu fundador e sobre a marca em si. Transformou-se numa referência, tanto pela sua cultura organizacional, como pela sua verdadeira preocupação com a sustentabilidade.
Índice
Tudo começou por uma paixão.
Nos anos 50, Yvon Chouinard começou a fazer escalada e tornou-se na sua paixão. Assim, aprendeu a fabricar o próprio equipamento de escalada e rapidamente o seu hobby transformou-se num negócio pequeno e local. O curioso é que não estava no seu plano iniciar uma carreira enquanto empreendedor e homem de negócios, esta foi na verdade uma solução prática ao seu desejo de aventura e à sua curiosidade para conhecer o mundo.
Patagonia, o nome
O nome Patagonia é inspirado no filme “Mountains of Storms”, que aborda a jornada de cinco amigos desde a Califórnia até à escalada do Monte Fitz Roy. Chouinard sentiu-se inspirado pela obra e decidiu dar o nome à sua marca de roupa em homenagem ao local onde se encontra a montanha em questão, a mística terra da Patagónia. A primeira loja foi fundada em Ventura, Califórnia.
A inovação foi sempre uma constante, tanto no design de ferramentas, como no desenvolvimento de opções sustentáveis com tecnologia de ponta para as suas roupas. Torna-se, assim, no primeiro fornecedor americano de equipamentos para atividades ao ar livre deste tipo e líder de mercado.
Compromisso com o meio ambiente
A Patagonia não foi inovadora só em termos de materiais e design das suas roupas mas também relativamente a decisões com implicações perante o meio ambiente. Ao longo dos anos foi ficando cada vez mais claro que a empresa iria continuar a demarcar-se pelas suas iniciativas progressistas e deixaria explícitas as suas preocupações com o planeta e a sua equipa.
Partilho algumas datas relevantes:
1985
É um ano importante no desenvolvimento da marca – a Patagonia realizou o seu primeiro compromisso sustentável. Acordou que 1% das vendas totais ou 10% do lucro total anual seria doado para organizações sem fins lucrativos e grupos de defesa do meio ambiente.
1988
Realiza a sua primeira campanha em torno de uma questão ambiental concreta de modo a alertar para as mudanças e também para promover a consciencialização. Esta iniciativa em 1988 teve como objecto de alerta a não urbanização do vale Yosemite, na Califórnia. Estas campanhas continuam a ser realizadas anualmente até à actualidade.
1996
A organização foi pioneira em alterar a sua produção para algodão orgânico, assim como em usar como matéria prima garrafas de plástico reciclado para o fabrico de poliéster reciclado.
2021
Com os dados sobre os efeitos nocivos do fabrico do poliéster no meio ambiente e estando em aberto o debate acerca do seu uso excessivo (principalmente na indústria de fast fashion), a marca comprometeu-se a aplicar 84% de poliéster usado para fazer as suas roupas.
Passados quase 40 anos, a empresa continua a honrar os seus compromissos, tendo doado milhões de euros a agências ambientais. Para além disso, usou (e usa) a sua influência para inspirar mudanças e defender o meio ambiente.
O triunfo das campanhas de marketing
Clareza, coerência, franqueza, honestidade e vontade são algumas das características que representam a marca e que foram tão bem aplicadas em cada uma das suas estratégias de marketing.
Dada a história do seu fundador, a marca aloca os devidos recursos para as suas campanhas de marketing, valorizando sempre abordagens que sejam criativas e inovadoras.
Partilho contigo alguns exemplos:
2012
Publicou um anúncio alusivo à Black Friday apelado a que os seus consumidores não comprassem uma das suas peças de roupa. Teve uma repercussão tão grande que foi um sucesso de vendas.
2016
Usando mais uma vez a data da Black Friday, fez com que o dinheiro das vendas revertesse para doações a comunidades e ativistas ambientais.
2017
Criou uma plataforma destinada à revenda de roupas e acessórios e artigos usados da Patagonia intitulada Worn Wear.
2020
Participou na campanha “Stop the hate” retirando todos os anúncios do Facebook e Instagram, como crítica ao comportamento das empresas de Mark Zuckerberg e ao pouco empenho no combate do discurso de ódio.
Compromisso com os colaboradores
Seguindo os princípios da organização, a Patagonia sempre respeitou e cuidou do bem-estar dos seus colaboradores. Para além da satisfação e conforto dos seus trabalhadores, existe também a preocupação com a assistência médica e licença de maternidade e paternidade remuneradas.
Foi criada também a política “Let My People Go Surfing Policy”, permitindo aos funcionários ter a liberdade de usufruir de atividades ao ar livre, bem como uma folga à sexta-feira, a cada duas semanas.
É uma cultura organizacional eficaz e que é valorizada pelos seus funcionários, tendo uma baixa taxa de rotatividade de funcionários.
Considerações finais
“A Terra é agora o nosso único acionista”, diz Chouinard.
Sempre foi consciente de que os recursos do planeta são finitos e de que se nos comprometermos, conseguiremos salvá-lo. Diz que espera conseguir influenciar uma nova forma de capitalismo “que não acabe com meia dúzia de pessoas ricas e com o resto a serem pobres”.
Para quem nunca quis ser um empresário, tem sido, na minha modesta opinião, o melhor de todos. Tudo o que faz está alinhado com os seus valores e desde sempre que valorizou a sua casa mãe… o planeta.
Num mundo em que tanto se fala de Elon Musk e Jeff Bezos… o meu ídolo é o Chouinard.
Quando for grande quero ser como ele! 🙂