Viajar é a melhor educação que podes receber

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Hoje em dia as empresas procuram características diferentes nos seus colaboradores, procuram incluir pessoas com competências, mentalidades e nacionalidades diferentes, fazendo com que cada vez mais existam espaços de trabalho com imensa diversidade cultural. Além disso, procuram cada vez mais atuar numa direção global, ou seja, trabalhar para e com outros mercados e países, dando novos desafios à empresa. Esses aspectos muitas vezes são levados em consideração na hora de escolher o funcionário.

Em julho do ano passado aceitei o desafio de me mudar e trabalhar na Alemanha e, claro, surgiram várias dúvidas e reflexões. Eu sabia que estaria longe do conforto a que estava acostumada, mas o desejo de saber e aprender mais rápido era mais forte. 

Escrevi este artigo que aborda as diferenças culturais existentes e como, na minha perspectiva, podem ser uma barreira na comunicação e consequentemente interferir no desenvolvimento do trabalho ou até mesmo, ter um impacto emocional a nível pessoal e profissional.

Sou portuguesa, por hábito desvalorizamos facilmente o próprio país e colocamos todos os outros num pedestal. Por isso é perfeitamente aceitável ouvir expressões como: “Portugal? Isso é na Espanha?”. Portugal viveu várias crises económicas que abalaram muito o país, mas nunca entristeceram os portugueses. Somos um povo alegre e humilde, sempre dispostos a ajudar quando necessário, sempre aberto às oportunidades que os outros países oferecem, um país com imensa história e infelizmente com uma população que envelhece rapidamente. Se um estrangeiro em Portugal pede a um novo ou a um idoso as indicações de um restaurante ou museu, eles de tudo farão para ajudar, nem que tenham de desenhar, apontar ou dançar! 🙂

Os portugueses são pessoas humildes, que trabalham bem e que se dedicam, por vezes até demais na minha opinião, tornando-se danoso porque há sempre alguém que aproveita dessa boa vontade. Somos um povo dedicado à família, aos amigos e o lugar para conversar e fazer negócios é à mesa.

Wilsons Promontory Park, Australia

“A melhor educação que receberás é viajar. Nada ensina mais do que explorar o mundo e acumular experiências.”
― Mark Patterson

Desde que comecei a minha graduação, tive a oportunidade de participar em diversas experiências com pessoas de diferentes países. Na minha família, costumavam brincar comigo a dizer que eu estava sempre a viajar e nunca estava em casa. De certa forma que era verdade!

Para mim, viajar é uma das coisas mais enriquecedores que se pode fazer, porque permiti-me aprender imenso sobre outras culturas, tornou-se numa das melhores formas de aprender e crescer.

Num dos workshops que participei, estiveram presentes alunos noruegueses, polacos, alemães e portugueses. Na altura ficava muitas vezes frustrada com várias coisas, porque uns dedicavam-se mais que outros ou quando se debatia algo nem todos entendiam o mesmo.. agora entendo o porquê.

Nós, portugueses, somos pessoas que ao explicar algo explicamos toda a história, damos todo o contexto. Enquanto os alemães, por exemplo, respondem ao que se pede, se as perguntas forem feitas de forma indireta os portugueses conseguem entender, mas os alemães na maioria das vezes não.

Quando me mudei para a Alemanha, tinha uma imagem preconcebida dos alemães por causa dessas experiências anteriores, e de alguma forma acho que tinha um estereótipo dos alemães em comparação com os portugueses. Além de ter a ideia de que o tempo estava sempre cinzento (o que está confirmado!) e de a Alemanha estar no centro da Europa e financeiramente estável, achava que os alemães eram pessoas mais sérias, hostis, com alguma dificuldade em se relacionarem, com um humor “típico alemão” e com uma elevada assertividade, mas ao mesmo tempo um pouco intransigentes em aceitar outras opiniões. Por fim, tinha a ideia de que na sociedade alemã existia um domínio masculino, em que as mulheres tinham menos poder, sendo desvalorizadas mais facilmente no contexto de trabalho. Mas mesmo assim, considerava que era uma sociedade que colocava muito esforço no seu trabalho.

Porquê esta comparação entre alemães e portugueses? A resposta é simples: em primeiro lugar porque é o meu contexto e o meu ambiente hoje em dia e a segunda razão é porque um deles é o que chamamos de alto contexto e o outro de baixo contexto.

Estas são as maneiras de comparar os países em termos de comunicação:

  • Alto contexto é uma comunicação sofisticada em termos de contextualização e a mensagem é quase sempre implícita. O que significa que a compreensão pode ser desenhada pela conversa ou lida nas entrelinhas, geralmente esses são os países com culturas mais voltadas para o relacionamento.
  • Baixo contexto significa conversa simples, precisa e clara e a repetição é algo que se aprecia no sentido de ajudar a esclarecer a conversa, onde tudo é possível e tempo é dinheiro.

Algo que ajuda a perceber esta divisão é em certa medida a história dos países, por exemplo os considerados de alto contexto são os países que têm uma maior história, onde o contexto e a história é passado de geração em geração, enquanto o baixo -contexto são países mais individualistas e “recentes”.

“Fig 1.2. Communicating”, Pg 41 — do livro The culture map by Erin Meyer

A forma como nos comunicamos dentro do nosso país resulta porque todos temos a mesma formação, mas pode acontecer que não funcione com outros países se não soubermos distinguir o tipo de comunicação que eles têm. Então tudo é relativo e a melhor forma de ter uma boa comunicação é perceber a posição do país ao qual estamos a comparar, já que nenhum país tem uma posição absoluta mas relativa, por exemplo:

  • Portugal VS Alemanha = contexto alto VS baixo contexto
  • Portugal VS França = ambos têm contexto alto, mas comparando os dois Portugal tem contexto mais baixo do que França
  • Alemanha VS EUA = contexto alto VS baixo contexto

Normalmente os maiores problemas de comunicação acontecem entre dois países considerados de alto contexto, como por exemplo Portugal e China, pois apesar de tudo, a cultura é muito diferente. Mas enquanto os portugueses são emocionais e expressivos e às vezes se confrontam para obter informações, os chineses, por exemplo, evitam o confronto e não são tão expressivos. Isso significa que além dessa alta e baixa divisão de contexto, temos que perceber que países são mais e menos emocionais e quais os que gostam do confronto e os que evitam.

Obviamente, para que a comunicação dentro de uma equipa funcione, além de identificar essas diferenças, é necessário que todos os envolvidos procurem saber mais sobre a cultura e que sejam de alguma forma mais flexíveis para se adaptarem rapidamente às diferentes situações.

Hoje em dia, saber colaborar com pessoas de outras culturas é uma habilidade vital do ponto de vista empresarial. Obviamente, além da cultura, existem outras coisas que influenciam a maneira como nos comunicamos entre diferentes culturas, como personalidade, forma de trabalhar, motivações, noção de tempo, organização pessoal, métodos, etc. Então, eu diria que os pontos importantes a ter em conta para uma boa comunicação, seja intercultural ou não, dentro de uma equipa são:

  • Colocar o orgulho de lado, ser flexível e honesto;
  • Confiar e deixar espaço para que as diferentes personalidades e formas de trabalho sejam benéficas para a equipa;
  • Estabelecer regras de feedback para que haja sempre espaço para receber e compartilhar feedback de forma construtiva;
  • Compartilhar sempre os objetivos e expectativas pessoais para que toda a equipa esteja na mesma página em termos de compromisso e dedicação.

Tudo isto vai-te ajudar a ter uma comunicação mais transparente.

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